Se formos procurar definições formais veremos que espiritualidade, vem do latim “spiritus”, é o conjunto de atitudes, crenças e práticas que fazem parte da vida das pessoas e as ajuda a alcançar realidades mais sensíveis e a ter um relacionamento com o transcendente – no nosso caso Deus – consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Está presente em todas as religiões. Ou seja, uma pessoa pode ter espiritualidade, sem estar ligada a nenhuma Igreja ou religião.
Mas falando um pouco da espiritualidade que “liga” as pessoas à nossa religião podemos dizer que é a dimensão da pessoa humana que traduz o modo de viver característico daquele que acredita e busca alcançar a plenitude da sua relação com Deus, com as pessoas que a cercam, com a natureza e com a sociedade em que vive.
E como saber se determinada pessoa possui “espiritualidade”? Eu diria que essa pessoa “transpira” isso. Você observa no modo em que ela vive, não só a dimensão religiosa como a maneira como ela trata as outras pessoas e o mundo que a cerca. Ela é uma pessoa “diferente”.
Algumas pessoas confundem espiritualidade com religiosidade. Não é a mesma coisa. A religiosidade é o esmero e o fervor em cumprir com as obrigações de uma religião, ou seja, está mais relacionado ao conjunto de crenças naquilo que é divino, sagrado e ao exercício de algumas atividades relacionadas a essas crenças. E algumas pessoas podem levar a religiosidade aos extremos, chegando até ao fanatismo religioso não aceitando outras crenças, que não as suas. Tornando-se intransigentes e intolerantes para com aqueles que não professam a mesma religião ou tem a mesma fé.
Enfim, não é fácil saber se realmente possuímos “espiritualidade”. Crer em Deus, ir à missa todos os domingos, comungar, confessar, rezar terços, fazer adoração, rezar sempre, não dá à pessoa a característica da “espiritualidade”. Penso que a espiritualidade está mais relacionada ao modo como ela coloca essa fé interior (que ela possui num ser divino e transcendente), no seu modo de viver. Como pratica aquilo em que crê.
E agora vamos lá. VAMOS FAZER UM TESTE. Vamos ver se somos realmente pessoas “espiritualizadas”. Como você encara um texto escrito por Leonardo Boff (que muito católico torce o nariz porque é teólogo da libertação), baseado na filosofia do Dalai Lama (monge tibetano budista)? O texto fala de “espiritualidade”. E espiritualidade tem muito a ver com o “como” interpretamos as coisas. Você consegue deixar de lado as crenças religiosas profundamente arraigadas em você e “entender” essa visão de duas pessoas que professam a religião diferente de você?
* * * * * *
Do livro: “ESPIRITUALIDADE – Um Caminho de Transformação” de Leonardo Boff.
“Agora cabe colocar diretamente a pergunta: Afinal, o que é espiritualidade? Uma vez fizeram esta pergunta ao Dalai-Lama e ele deu uma resposta extremamente simples:
– “Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”.
Não entendendo direito, alguém perguntou novamente:
– Mas se eu praticar a religião e observar as tradições, isso não é espiritualidade?
O Dalai-Lama respondeu:
– Pode ser espiritualidade, mas, se não produzir em você uma transformação, não é espiritualidade. E acrescentou:
– Um cobertor que não aquece deixa de ser cobertor.
Então atalhou a pessoa:
– A espiritualidade muda ou é sempre a mesma coisa?
E o Dalai-Lama falou:
– Como dizem os antigos, os tempos mudam e as pessoas mudam com ele. O que ontem foi espiritualidade hoje não precisa mais ser. O que em geral se chama de espiritualidade é apenas a lembrança de antigos caminhos e métodos religiosos.
E arrematou:
– O manto deve ser cortado para se ajustar aos homens. Não são os homens que devem ser cortados para se ajustar ao manto.
Parece-me que o principal a ser retido desse pequeno diálogo com o Dalai-Lama é que ESPIRITUALIDADE É AQUILO QUE PRODUZ DENTRO DE NÓS UMA MUDANÇA. O ser humano é um ser de mudanças, pois nunca está pronto, está sempre se fazendo, física, psíquica, social e culturalmente.
Mas há mudanças e mudanças. Há mudanças que não transformam nossa estrutura de base. São superficiais e exteriores, ou meramente quantitativas. Mas há mudanças que são interiores. São verdadeiras transformações alquímicas, capazes de dar um novo sentido à vida ou de abrir novos campos de experiência e de profundidade rumo ao próprio coração e ao mistério de todas as coisas. Não raro, é no âmbito da religião que ocorrem tais mudanças. Mas nem sempre.
Hoje a singularidade de nosso tempo reside no fato de que a espiritualidade vem sendo descoberta como dimensão profunda do humano, como o momento necessário para o desabrochar pleno de nossa individuação e como espaço da paz no meio dos conflitos e desolações sociais e existenciais.”
Ângela Rocha, Catequista – http://catolicos.vialumina.com.br/index.php/o-que-e-espiritualidade/